domingo, 20 de julho de 2014

Adestrando meninos

Comprei um desses livros sobre cachorros. O autor tem (ou tinha) um programa na TV por assinatura para ajudar pessoas com cães indisciplinados, ao menos é o que ele diz no livro. No livro tenta ajudar as pessoas a escolherem corretamente um "novo membro da família"; sim, esse é o tratamento dispensado aos cães.
Claro que essa humanização dos pets ainda me incomoda, seja pela sua expressão econômica (o gigantesco mercado criado para satisfazer os desejos de consumo mais irracionais, dos donos, evidentemente) ou seja pela inversão de valores que implica (tem gente que realmente acredita que seu cachorrinho "vale mais" do que outras pessoas). Afinal, sou da geração que cantou com Eduardo Dusek, em alto e bom som, "troque seu cachorro por uma criança pobre".

Sim, mas não comprei o livro para atirar o pau no gato, no cão e, principalmente, naqueles donos que deixam seus cocôs pelo chão. Quem sabe outro dia, talvez.
Resolvi ler o livro porque decidimos (ai Jesus!) arrumar um cachorrinho. É isso. Já que não há planos (e muito menos tutu) de comprar uma casa e já que não pode haver infância sem bicho, vamos cometer a insensatez de botar um cão dentro de um apartamento. Por isso fomos consultar o especialista.
O cara até que tem uma abordagem interessante sobre a escolha. Ele afirma que é preciso identificar o nível de energia do cão, que também está ligada à raça, com o nível de energia da família. Exemplificando: se sua família é preguiçosa com tendência ao sedentarismo não é aconselhável acolher um galgo russo. E assim, com base em níveis de energia (ou vitalidade), ele segue oferecendo dicas para inclusão do novo membro da família e para solução dos problemas.

Bom, dito isso, agora posso falar do Antônio. Desde seu nascimento ele já indicava ter um nível de energia muito acima da média. Tanto é que antes do Antônio eu cheguei a imaginar que o João Pedro pudesse ter aquele déficit de criança agitada. Hoje estou convencido que a maluquice dos meninos decorre em grande parte da raça -- a mãe e eu somos os responsáveis. Mas o Antônio, ainda assim, mesmo para os mais elevados padrões de energia, bate recordes.

Vejam só o que aconteceu na última quinta. Cheguei em casa depois do trabalho e o encontrei de cueca, com uma capa, uma espada em cada mão e pronto pra luta. Era Leônidas disposto a enfrentar todos os homens de Xerxes.
Topei o desafio e depois de auxiliá-lo, por meia hora, a derrotar (com requintes de crueldade) uns dez oponentes pedi que parássemos. Com o sangue nos olhos e a energia na lua, ele me disse: -- Agora não, papai, faltam apenas cento e cinquenta.

É mole? Só sei que depois dessa Emiliane e eu estamos pensando em aposentar o De Lamare e adotar o livro sobre cachorros como referência na criação, ou melhor, no adestramento dos meninos. Pelo menos xixi no lugar certo o autor parece que garante.

domingo, 6 de abril de 2014

Nova infância

Não vou nem me desculpar pela ausência. Porque, hoje em dia, a única certeza que tenho é a de que não escreverei amanhã. Pode até soar triste, mas, enquanto a falta de tempo para o Filhosofias for a consequência das opções de vida que livremente fizemos, não é.
Enfim, poderia estar melhor se tivesse mais tempo pra escrever. Não havendo, estamos todos bem, mesmo assim.

Indo ao ponto, a noticia é a seguinte: semana passada conversava com o João Pedro sobre o tempo que ele passa no mundo virtual e sobre como é importante ter experiências no mundo real. Por exemplo, disse a ele, sei que é legal acompanhar as façanhas que seus amigos da escola realizam, na hora do recreio, nos jogos eletrônicos (soube que ele se esqueceu de lanchar porque ficou fascinado com um desses games); contudo, afirmei, é preciso usar o tempo livre para correr, brincar, conversar, suar e comer no intervalo das aulas.

Como de costume, ele contra-argumentou: mas a gente brinca. Como de costume, eu retruquei: brinca como? E ele: brincamos de gmail. Como assim, João, de gmail?
E ele: A gente brinca de mandar recados uns para os outros, e quem é o gmail tem correr bastante para dar conta da brincadeira.

Olhei pra mãe dele com cara de quem não sabe nada e disse: Ah, então, tá.

Desde daquele dia estou pensando em como virtualizar o "correio elegante", a "ciranda", a "mãe da rua", entre outras brincadeira de nossa velha infância. Mas acho que é melhor começar fazendo uma busca no Google...