quarta-feira, 3 de abril de 2013

Que moleque é esse?

"Só vou tirar o terno e já me sento aqui com você pra brincar de playmobil", assim respondi à convocação que me dirigiu o Antônio no instante seguinte em que entrei em casa, voltando do trabalho.
Sem o "uniforme", passei pela cozinha para comer, ao menos, um miolo de pão com azeite e tapear a fome (até que pudesse saciar minimamente a sede de pai do meu caçula).

Foi sentar no chão e a Pio, nossa calopsita de estimação (que merece um capítulo à parte) vir ao meu encontro para, então, subir em mim.
E eu, claro, deixei que ela escalasse meu braço até conseguir alcançar o meu ombro direito, que parece ser seu poleiro predileto.
Aí, depois de empoleirar-se, a Pio começou a bicar delicadamente minhas saliências: a ponta da orelha, um fio de barba, uma pinta no pescoço, uma espinha temporã, etc. (como na música do Caetano a Pio gosta de "fuçar nossos defeitos"). Ao se aproximar da minha boca resolvi tirá-la do ombro e devolvê-la ao chão, ralhando com a bichinha para dar lição aos meninos: "aí (encostar na boca) também não!".

O Antônio, que assistia a tudo atentamente, foi logo delatando: "O João deixa a Pio beijar a boca dele".
"É verdade, filho?", perguntei já sabendo a reposta.

"Sim", disse ele sorrindo.

Resolvi dar sermão: "Poxa vida, a passarinha passa o dia bicando o pé de todo mundo, ciscando sujeira pelo chão, limpando as penas de cocô e você ainda tem coragem de colocar esse bico emporcalhado na sua boca. Não acredito. É como lamber o chão".

João me interrompeu, porque ainda continuaria discursando, para dizer que eu á tinha mandado ele lamber o chão. "Como assim, eu mandei? Você está doido?", retruquei meio inconformado.

Na maior tranquilidade, ele me lembrou que eu o mandei lamber o leite do chão depois dele ter derramado um copo inteiro no piso da cozinha.

Na hora fiquei horrorizado ao me dar conta de meu próprio descontrole e só consegui dizer: "Eeeuuuu???"
Talvez tenha corado ou mesmo ficado com cara de bunda. O fato é que o João, olhando para mim, percebeu meu desconcerto. E, imediatamente, do alto de sua sensatez, dos seus longos nove anos de idade, o João Pedro me disse num tom sereno e passando a mão pela minha cabeça (como se afagasse uma criança menor do que ele): "Mas, você estava nervoso", oferecendo a mim desculpas para o meu próprio ato.

Levantei-me e fui direto perguntar à mãe do João Pedro, afinal, que moleque é esse.

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