sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A superioridade moral das crianças

As crianças, tal como o bom-selvagem de Rousseau, nascem em condições de serem moralmente superiores a seus pais. Nós é que, em regra, impedimos que isso ocorra, oferecendo exemplos eloqüentes de nossas fraquezas como se fossem manifestações de força e superioridade. Felizmente, as vezes acontece de nossos filhos conseguirem superar os obstáculos que criamos (involuntariamente, tento me convencer) e se formarem pessoas muito melhores do que nós.


Parece que o João Pedro conseguirá. Ao menos é o que indica esta situação que vivemos há uns dias.

Minha mãe passou de casa para entregar aos meninos uma Nhá Benta para cada um.

Mas ao vê-los brincando com outro amiguinho resolveu entregar os dois chocolates a mim para que depois oferecesse apenas a seus netos. Conversávamos no escritório, eu ainda segura as caixinhas de Nhá Benta, quando o João entrou para me perguntar algo (que já não me lembro).

Na hora ele olhou para o doce e perguntou se era para ele. A vovó respondeu que havia trazido um para ele e o outro para o Antônio, porque não sabia que haveria outra criança. E eu ainda completei dizendo para ele deixar os chocolates para a sobremesa do jantar, porque só havia dois.

Como se compreendesse integralmente nossa sugestão (“não divida”), o João Pedro nos disse o seguinte, tomando as caixinhas de minha mão: “Vovó e Papai, pode deixar que eu pego uma faca sem ponta e divido o meu chocolate direitinho com o Caio. Obrigado, Vovó”. Deu um beijo em minha mãe e saiu feliz da vida.

Olhando para minha mãe meio sem graça com nossa própria inferioridade moral, só consegui dizer: "E não é que o moleque é mesmo bom de coração".